quinta-feira, 28 de julho de 2016

Elisa e Berard - A Elfa e o Cavaleiro




- Você conhece a historia da Elfa e do Cavaleiro?
O bardo dedilhou algumas notas no alaúde  em resposta a pergunta da pescadora. Todos ouviam o fogo crepitando na enorme lareira da estalagem da Carpa Ensopada.
- Sim, eu conheço a história de Berard e Elisa - disse o músico quebrando o silêncio.
- Conte-nos - pediu ela.
O bardo abriu um sorriso compreendendo os anseios da pescadora. Tratava-se de uma das lendas que enalteciam todas as qualidades que agora pareciam perdidas: fé, esperança, amor.


A lenda que vou lhes contar remonta a ilha de Lenarian, lugar onde a aliança negra de Orcs e Bugbears havia destruído todas as vilas deixando um rastro de sangue ate o ultimo foco de resistência: a cidade fortaleza de Ancor. Tudo que era verde e bom parecia condenado ao fim e la, entre seus muros,  o paladino Berard liderava um exercito  pequeno e mal equipado. O cerco dos orcs perdurava dias e todos morreriam de fome antes que qualquer ajuda chegasse. A única saída - disse o bardo caminhando em direção a pescadora - seria a morte certa em combate.


- Nāo temam a escuridão - bradou o cavaleiro altivo sob o estandarte do Deus da Justiça - a luz e a esperança, mesmo quando pequenas, podem afastar todas as trevas que nos cercam. Lembrem-se que não lutamos apenas por Lenarian, mas por cada pessoa que ainda vive aqui. 
O silencio ainda imperava entre todos, mas a postura ante a batalha tinha evidentemente mudado, antes, cabisbaixos e desesperançosos, todos pareciam ansiosos pelo iminente inicio do combate. 
- E por todos aqueles que caíram - gritou mais uma vez o cavaleiro- a hora de vinga-los finalmente chegou! 
Berard baixou a viseira de seu elmo ante os gritos e o furor de seu diminuto exército. Ele dirigia-se para os portões ciente de que as primeiras mortes poderiam provocar uma desastrosa fuga e condenariam todos aqueles sob sua proteção. Porém, antes que ele desse o sinal, Elisa aproximou-se e tocou em seu peito. Ela delineou a balança e a espada esculpidas no peitoral de sua armadura e sorriu. Ela encarava a imagem que evocava o Deus da Justiça ciente da carnificina que enfrentariam. O cavaleiro tocou-lhe o queixo e ergueu seu rosto. Mesmo naquela noite sombria, sob a luz das tochas, os olhos da elfa sustentavam um azul-esmeraldino nítido e cristalino.
- Que as bênçãos de Lena o acompanhem cavaleiro - as mãos da elfa ganharam um brilho azulado que lentamente transferiu-se para os contornos da  balança e espada entalhados no peitoral da armadura de Berard.

A elfa dedilhou seu cajado e o cavaleiro segurou firme a empunhadura de sua espada. Ambos, Elisa e Berard, eram a linha de frente daquele exercito maltrapilho e ambos adentraram as trevas sem que qualquer trombeta anunciasse o ataque.

Esse poderia ser o fim da historia - disse o bardo sorrindo da desesperança e do choro de seus ouvintes mais novos - entretanto, na medida em que avançavam a luz que emanava da armadura mostrava para o cavaleiro que sua amada seguia viva ao seu lado, e ela, seguia-o como uma estrela que avançava protengendo-o com  sua magia. 

Eles transformaram-se em um estandarte vivo, um sinal de esperança que mostrava que era possível chegar além, muito além do que imaginávamos. Que mesmo diante da mais improvável vitoria era possível defender aquilo que nos é sagrado. E esse amor inspirou anōes, cavalariços e até o mais maltrapilho soldado a avançar com paixão e coragem ao ver a luz  que singrava entre as trevas do inimigo.

A pescadora suspirou. Aquela historia era a prova  de que vivemos por causas maiores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário